Olha para mim. Olha bem para mim e tenta enxergar alguma parte minha que não esteja exalando você. Eu sei que você não vai encontrar.
Eu pensei em te ligar, em te contar sobre como os dias estão sendo terríveis, mas eu percebi que pela primeira vez em todo esse tempo, eu não fazia ideia sobre onde você estava desperdiçando o seu sábado à noite. Eu não quis soar inconveniente, por isso estou te escrevendo.
Ontem, enquanto eu tropeçava em um punhado de gente vazia e sem noção no meio de mais uma dessas festas que a gente vai com o pretexto de esvaziar a mente das tribulações, me peguei pensando em você. A música que estava tocando começou com os seguintes versos: "Quem vive de orgulho morre de saudade, quem deixa pra depois perde o momento sério." Eu deveria ter te dito. Eu deveria ter interrompido os seus berros rompantes no meio daquela briga às três da manhã. Deveria ter te beijado e te feito ficar, ao invés de sentar no meio fio e te ver entrar no carro como quem não tinha nada a perder. Você tinha. Tinha a mim. Eu te deixei ir embora, e essa foi a decisão mais covarde que eu já tomei. Você me olhava incrédulo, como quem implorava por alguma reação, e eu só conseguia te olhar. Você estava lindo, até mesmo naquela situação desesperadora. A luz do poste mais próximo refletia nos seus olhos castanhos cor de mel, e eu queria eternizar o jeito que você cuspia as palavras. No auge da minha embriaguez, eu achei tão sexy. O jeito que você falava meu nome, puto da vida. Aquela sua mania de jogar o cabelo pro lado se potencializou com a sua raiva, e aí você a fez de um jeito tão másculo que eu quis me desmembrar ali mesmo pra caber em você. Você gritava e provavelmente todos os vizinhos escutavam também. E eu só conseguia te olhar. Não me defendi do seu ciúmes totalmente fora de contexto. Não disse nada. Só percebi a burrada quando vi o seu carro dar a partida com tamanha rispidez que fez minha melhor amiga berrar. Foi aí que a ficha caiu.
Eu deveria ter ido atrás, a sua casa não era muito longe. Ou então ter discado o número do seu celular que eu já sei de cor. Deveria ter te pedido desculpas, esclarecido as coisas. Em contrapartida, chorei igual uma criança, sentada no meio fio enquanto o mundo inteiro girava por conta das vinte doses de Vodka que você havia me feito ingerir. Eu fracassei.
E foi ontem, que eu mais senti a sua falta. No meio daquela festa ridícula, enchendo a cara pra provar a mim mesma que estava tudo bem. Eu procurei por você em todos os cantos, esperei por você até o último segundo. Almejei pela sua presença do mesmo modo que uma criança espera pelo dia de Natal. E você não apareceu. Nem me ligou. Você vestiu a sua armadura de combatente e passou o primeiro sábado, desde que a gente se conheceu, sem me procurar. Doeu mais que um soco na cara.
E é por isso que eu estou te escrevendo. Eu não tive coragem de te ligar. Nem de ir até a sua casa e te falar sobre tudo que eu carrego no peito. Não fui mulher o suficiente para correr atrás do que eu queria, naquela madrugada quando você me deixou sozinha; onde eu só me dei por vencida quando você não estava mais por perto. Me desculpa por isso. Eu sinto a sua falta. E daquele seu moletom velho, da sua nuca, daquele ponto entre o seu braço e o cotovelo onde você tinha cócegas. Sinto falta de me sentir uma mulher melhor sabendo que estava com você. O jeito que os seus olhos me encaravam e me desejavam sempre foi melhor do que qualquer outra coisa. O modo como as suas mãos prendiam o meu rosto me davam mais calafrio do que qualquer montanha-russa.
Eu sei que é tarde, que a gente deixou passar muita coisa, e que eu disse uma infinidade de coisas que te magoou. E que eu também deixei de dizer muitas coisas que poderiam ter te feito ficar. Eu sei. Mas volta. Volta e faz a minha mãe parar de perguntar de você. Volta porque eu não sei mais dormir sem você me desejar boa noite, e também não suporto mais acordar sem as suas notificações. Volta porque eu preciso de você. Eu não sou autossuficiente como eu quis te provar aquela noite. Eu deveria ter gritado sobre como eu sou louca por você. E eu sou. Acredite em mim. Eu sou totalmente apaixonada por você. A sua alma é formidável. Você é incrível, e eu sou uma idiota por não ter te dito isso a tempo. E é por isso que eu te quero de volta. Porque você precisa saber sobre como as minhas pernas amolecem só por sentir o seu perfume. Você precisa saber sobre como o mundo se tornou um lugar melhor, só por você estar nele. Ainda existe uma infinidade de coisas das quais eu quero te mostrar e te contar. Eu não vou admitir que aquela noite, a qual você me olhou decepcionado e furioso, tenha sido a nossa última. Eu sei que demorou, mas eu me dei conta. Ontem, enquanto eu percorria o caminho de casa em um carro que não era o seu, a sua falta me sucumbiu como um raio. Volta. Volta pra mim. A gente ainda tem mais motivos pelos quais valem a pena brigar.
- A porta está fechada, eu só queria ver você voltar pra ver se tem um pouco de paixão, pra ver se brotou no seu coração o amor que eu plantei.
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