Na volta pra casa ela erguia o rosto procurando a Lua, nela buscava os olhos de uma velha amiga, que ainda em vida dizia que quando morresse não gostaria de ir para o céu, queria a Lua, e explicava de modo tão sincero que se fazia acreditar: "Na Lua tem chão pra minha casinha, não teria casinha nas nuvens, na Lua tem chão até para o meu jardim. E se por acaso eu for para o céu, estarei a um passo da Lua, basta eu morrer de novo. Quem morre duas vezes, sobe duas vezes. É só morrer dobrado, não tem segredo". Conhecendo a destreza da Vó, era sabido que ela não demoraria a morrer pela segunda vez, e nestas horas já estava cuidando dos teus jardins lunares. A neta escondia de todos a crença da Vó na Lua, como se ter fé em vó fosse pecado, o único ser celestial que sabe das coisas da Terra. Sabe sem ter viajado pelo mundo como a gente, sabe dos céus e da Lua sem ter entrado em aviões como a gente. Às vezes a neta chama a Lua pelo nome, às vezes de vovó, e quando brinda qualquer conquista, torce por um céu limpo, recheado de estrelas, companhias passageiras da sua amiga. Antes de dormir ela pede aos anjos que cuidem dela, sem saber que é a avó que cuida dos anjos, pois morreu duas vezes só pra ficar acima dos céus, para ter um jardim, e para a neta ter olhos na Lua.
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