Viveu

~ 21:00 ❞


No meio de uma noite sem fim ele desejou por um segundo a morte, arremessou o travesseiro que teimava em não dar encaixe e dormiu, não por culpa do sono, mas por um cansaço do tamanho de uma árvore centenária, de raiz profunda e histórias tristes. Quando acordou, aterrissou nos chinelos e fez, sem perceber, o que vinha feito nos últimos anos: viveu. Coou o café, tomou banho, pisou na rua e encolheu os olhos quando encarou o Sol. Foi vivendo, vivendo, vivendo e esqueceu de morrer, o desejo se perdeu nas lembranças, pois ele nunca teve a memória boa, mas não esquece a data do aniversário da mãe e liga de longe para dizer o mesmo de sempre: "Cê tá bem? Te amo. Se cuida". O mesmo de sempre era maior que uma árvore centenária.

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