Escrevi um poema pra você no saco de pão, depois do café, e escrevi no canto da mesa do trabalho e também no vidro embaçado, vítima do meu banho quente. Talhei este mesmo poema nas árvores do bairro ao lado de corações tortos e jovens. Rabisquei esse poema delinquente no banco de um ônibus que circulava daqui para lugar algum e o imprimi milhões de vezes para espalhar em bilhetes pelas ruas - não demorou para anunciarem nos jornais sobre o poema encontrado por todo canto da cidade. Ouviram-se histórias do poema sendo visto em barcos naufragados e desenhado em plantações de milho do outro lado do mundo. Criaram recompensas para quem descobrisse o endereçado, mas nunca chegaram próximo do seu nome. O poema virou uma canção de amor e foi repetido em incontáveis votos de casamento e na ponta de cadernos escolares. Escrevi este poema tantas vezes que o tenho tatuado entre os dedos. Tentar me desfazer dele apenas o multiplicou, pois falar mil vezes sobre nós dois é também ouvir mil vezes sobre nós dois.
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