Tô ansiosa.
Quero que o dia termine logo, assim como quero que o tempo passe devagar pra que eu olhe de novo o céu se misturando em cores infinitas no quase fim de um horizonte vazio. Quero acordar logo amanhã, mas anseio dormir por várias noites ininterruptas. Tô ansiosa pra que chegue o fim do mês, mas quero voltar pra semana passada. Tenho vontade de vomitar borboletas cansadas de voar dentro de mim, só pra ver elas voarem pelo mundo afora pra engoli-las de novo. E cuspir amor da janela do décimo segundo andar em quem passa apressado e sombrio lá embaixo. Queria colorir paredes e pintá-las de preto depois, só pra jorrar cores e sabores nelas outra vez. Eu roo todas as minhas unhas porque não aguento esperar que o tic-tac do relógio soe mais rápido. Então eu tiro as pilhas dele e vejo o universo se congelar ao meu redor. Gosto disso. Gosto da sensação de que, mesmo que o tempo não pare pra eles, eu paro o tempo pra mim. E vivo nele o quanto quero e preciso, até voltar a folhear o calendário ultrapassado e comprar pilhas de pilhas novas. Eu tenho a ansiedade de ver um futuro brilhante querendo viver o agora. Queria que a miséria acabasse, pessoas amassem, árvores reinassem… Tô ansiosa pra mudar o mundo enquanto ouço umas músicas cafonas no meu sofá porque mal consigo esperar que a minha lasanha fique pronta. Queria que o microondas apitasse logo, mas também queria sair pelas ruas procurando algo totalmente novo que eu sei que não existe, mas tô ansiosa pra que exista algum dia. Não paro pra colocar virgulas ou ler o que escrevo porque me sinto ansiosa pra colocar um ponto final e começar de novo. Ou melhor: continuar de novo. Eu chupo um sorvete esperando a próxima vez que passarei pela sorveteria do bairro e repetirei o sabor. Eu fico ansiosa se vejo algo que me lembra alguém e compro pra presenteá-lo. Não me importo se datas comemorativas vão demorar a chegar. Eu sinto vontade e faço. Porque a urgência de ser o agora não apaga a fogueira que mantenho acesa pra ser lembrada no depois. Sinto vontade de correr em montanhas, mas vejo o resto do mundo caminhando curvado em planícies chatas. Não tem quem sente junto à mim e admita que tudo passa rápido demais, mas o demais às vezes não é tanto assim. Daí dói.
Eu sofro sendo estupidamente ansiosa pra não sofrer por não esperar nada da vida.
- Capitule
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