Lindo e assustador como o Rio de Janeiro.
Refrescante, com um ar de quem nunca vai mudar, quente, novo, diferente, transparente, salgado. Como qualquer praia do Rio de manhã.
Distante, incompreensível, complicado, difícil, vazio, salgado. Como qualquer bairro do Rio à noite.
Olhar pra você me custava muito mais que os meus dois olhos, me custava todo o psicológico que eu tentei manter inabalável por vinte e tantos anos.
Olhar pra você sempre me doeu tanto.
Porque seu olhar nunca me disse nada.
Foi sempre uma questão de não ver e talvez essa tenha sido uma escolha. Talvez eu realmente tivesse escolhido não conhecer você de verdade pra que eu pudesse te amar.
Pra que eu pudesse amar a sua superfície, o que eu achava que você era, pra que eu pudesse amar a expectativa. A experiência.
Eu te amei de manhã, mas nunca soube dizer o que sentia por você a noite.
Um dia você me disse que parou de ir ao terapeuta porque não fazia sentido, ele sempre dizia que você não aceitava e você nunca entendia.
Uma hora você ama como se o mundo fosse acabar meia noite e você tivesse que viver toda sua vida em vinte e quatro horas.
Na outra hora, você despreza como se a sua mãe não tivesse te pegado no colo quando você nasceu. Como se você não tivesse sido limpo na hora que veio ao mundo.
Como se tivesse tido que se virar no próprio sangue e tivesse arrancado o próprio cordão umbilical.
Depois você sorri.
E me mostra a praia do Arpoador no seu rosto brilhante e vivo, saudável, cheio de areia sim, mas coberto de mar.
E eu entendo muita coisa olhando pra você agora, mas eu sei que quando esse sorriso fechar e você me mostrar o Rio à noite eu vou me perguntar de novo como, onde e por quê.
Eu vou me perguntar como aquele mar tão azul e tão bonito, ficou tão grande e sombrio, como se cada onda fosse me engolir.
A cada passo que você dá eu tenho mais certeza que você ainda não aceita.
Mas eu amo o Rio de Janeiro às nove da manhã e a sensação de nunca saber o que esperar dele à noite.
O seu terapeuta estava certo, o meu também.
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