Sua

~ 04:07 ❞


E aí, eu disse que nada nunca ia ser tão sua quanto eu, e você riu. Riu tão alto que acordou a cidade toda. A gente não falou mais nada depois disso. Encaramos a cidade pela janela amarelinha do meu apartamento no quarto andar por alguns minutos, e eu chorei. Chorei porque era a mais pura verdade de todas. Eu não ia conseguir ser de outra pessoa. Eu não ia conseguir ser outra coisa além desse amontoado de sons, neuras e luzes que não faz outra coisa além de irradiar amor, por você. Eu chorei porque amor quando é grande demais, arde. Ali, encostada no seu ombro, vendo muitos pontinhos acesos no concreto a fora, eu chorei pelo que éramos. Pela delicadeza que tínhamos, pelo cuidado que dávamos a tudo o que já nos tinha acontecido. Como naquela vez em que a gente teve a pior semana do mundo, e aí achamos que nada mais ia dar certo na nossa vida, então sentamos no sofá e choramos. Os dois corpos apoiados num monte de desejo torto e simples de ser feliz pra sempre. Que o mundo de alguma forma não entendia. Lembra? A gente só tinha amor. Eu escorro o medo de te perder todos os dias, de ter que encarar uma realidade aonde você não esteja mais a dois passos da porta toda vez que eu chego às cinco da tarde. A vida maltrata quem sente demais. Dois minutos depois você passou a mão no meu ombro com um perfume suave contornando o braço, o cheiro de loção de barbear de menta saindo dos poros e disse baixinho no meu ouvido que não precisava demais nada além de um abraço e um cigarro. E eu ri porque a gente não fuma. Mas eu te trago no peito. Sempre.

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